quarta-feira, 2 de dezembro de 2009











Ícone da Boca do Lixo



Coolaboração de : MARCELO MIRANDA

Ele se denominava um "operário" do cinema brasileiro. Autor de 32 longas-metragens, realizados entre 1972 e 1988 - a maior parte na Boca do Lixo -, o cineasta Tony Vieira passa por um momento de redescoberta. Desde o último dia 11 de novembro, está aberta na cidade mineira de Contagem (municípico da região metropolitana de Belo Horizonte, a 15 Km da capital) uma exposição em homenagem à memória do "operário".

Tony Vieira contracena com Claudette Jolbert no filme "Traídas Pelo Desejo" (1976)

"Tony Vieira - Cineasta de Contagem" reúne um vasto acervo de fotos, cartazes, figurinos, objetos de cena e textos relativos à trajetória do diretor. A iniciativa veio da prefeitura local, no intuito de revalorizar a imagem e a obra de um dos mais populares realizadores que o cinema brasileiro já teve. "O Tony foi um cineasta apaixonante justamente por ser um apaixonado pelo cinema", exalta a historiadora Carolina Dellamore, membro da Diretoria de Memória e Patrimônio da Secretaria de Educação e Cultura de Contagem.


Tony Vieira e Claudette Jolbert, desta vez no cartaz do polêmico filme "A Filha do Padre" (1975)
Carolina conta existirem, até alguns anos atrás, dois rumores na cidade a respeito de Tony Vieira. Um era de que ele tinha sido responsável por atrair milhares de pessoas para assistir aos seus impactantes filmes nos cinemas; o outro dava conta de que ele fora apenas um realizador de fitas pornográficas e nem merecia ter o nome vinculado a Contagem. "Sempre ficávamos na dúvida: qual era, afinal, o verdadeiro Tony?", conta ela.

Munida do faro histórico e da memória e empolgação de Hytagiba Carneiro - que atuou em vários filmes de Tony e foi o responsável por guardar todo o seu acervo, após a morte do diretor em 1990 -, a equipe de Carolina conseguiu reconstituir os caminhos de Tony Vieira, inclusive confirmando que dois de seus trabalhos ("Traídos pelo Desejo" e "Os Depravados") tinham cenas filmadas em Contagem. "É também uma forma de nos enxergar através da obra dele", afirma Carolina.

Para Hytagiba, foi a realização de um sonho antigo e persistente. Defensor e profundo admirador de Tony, o ator - hoje aos 80 anos - fez o que pôde para cuidar da obra do amigo e manter o nome dele em voga. Durante um grande período, guardou as latas de negativo dos filmes de Tony em casa. As condições inapropriadas de armazenamento lhe causaram problemas respiratórios, por conta da decomposição das películas.
ASSISTA A TRECHO DO FILME "A FILHA DO PADRE" (1975)

Após ficar algum tempo na Casa de Cultura Nair Mendes Moreira, em Contagem - onde Hytagiba diz ter ido vistoriar rotineiramente, para saber se não faltava nenhum rolo de filme ou objeto de Tony -, o acervo foi depositado no Crav (Centro de Referência Audiovisual), em Belo Horizonte, onde atualmente está sob condições ideais de preservação. A prefeitura de Contagem deve promover uma mostra desses títulos no ano que vem, como parte de um projeto de restauração da obra.

Sucesso
Números apurados pela Ancine (Agência Nacional do Cinema) dão conta de que Tony Vieira é o diretor brasileiro com maior número de títulos cuja frequência do público variou entre 500 mil e 1 milhão de espectadores - veja ranking no site da Ancine.


Hytagiba Carneiro atuou em vários filmes de Tony Vieira e foi responsável pelo seu acervo
Seu maior sucesso é "Desejo Proibido" (1974), com pouco mais do milhão de pessoas. Mas os demais variam de 527 mil ("Os Depravados", entre 1978 e 1979) a 968 mil espectadores ("A Filha do Padre", em 1975). No cenário semi-industrial da Boca, no qual levar pessoas às salas de exibição era garantia da continuidade de produção, Tony estava no grupo dos muito bem-sucedidos. Não por menos, fundou sua própria produtora, a MQ Filmes, e fazia ele mesmo praticamente tudo - era diretor, ator, compositor, montador, diretor.


Tony Vieira era pseudônimo para Mauri de Oliveira Queiroz. Nascido na pequena Dores do Indaiá (cidade do oeste mineiro, a 244 Km de Belo Horizonte), aos 12 anos se mudou para Contagem, seguindo as andanças de um circo itinerante. Na cidade, trabalhou na Companhia de Cimento Itaú, empresa que mantinha um show de calouros no qual Tony despertou a veia artística.

A ida para São Paulo aconteceu no final dos anos 60, a convite de Moacir Franco, que o levou à TV Tupi e lhe deu papéis em telenovelas. O cinema surgiu naturalmente, muito por conta da sanha de Tony em descobrir novas formas de contar histórias. Integrado na Boca do Lixo - local na Rua do Triunfo onde uma geração de cineastas montou um informal e efervescente polo de produção -, realizou seu primeiro longa, "Gringo, o Último Matador", em 1972.

Dali em diante, Tony Vieira virou sinônimo de sucesso - e também de versatilidade. Dirigiu faroestes, thrillers policiais, suspenses e, no fim da carreira, diversos pornôs. "Sua principal marca era falar diretamente ao povão", diz o pesquisador Rodrigo Pereira, especialista em "western feijoada" (denominação para os bangues-bangues brasileiros). "O Tony tinha um desprendimento no jeito de filmar e narrar que o aproximava da massa popular disposta a ver os seus filmes. Se tivesse mais dinheiro, ele estaria no mesmo nível de um Enzo G. Castellari [diretor italiano de "Keoma" e "Assalto ao Trem Blindado", que inspirou "Bastardos Inglórios"]. Mas, do jeito que fez, deixou uma marca".


FILMOGRAFIA DE TONY VIEIRA


1988 - "Calibre 12"
1988 - "A Famosa Língua de Ouro"
1987 - "Eu Adoro Esta Cobra"
1987 - "Julie... Sexo à Vontade"
1987 - "Scandalou's das Libertinas"
1986 - "Garotas da Boca Quente"
1986 - "Meninas da B... Doce"
1985 - "Banho de Língua"
1985 - "Neurose Sexual"
1986 - "Venha Brincar Comigo"
1984 - "Meninas de Programa"
1984 - "Prostituídas pelo Vício"
1983 - "Corrupção de Menores"
1982 - "As Amantes de Helen"
1982 - "Desejos Sexuais de Elza"
1982 - "Susy... Sexo Ardente"
1981 - "Condenada por um Desejo"
1980 - "Tortura Cruel"
1979 - "O Matador Sexual"
1979 - "O Último Cão de Guerra"
1978 - "Os Depravados"
1978 - "Os Violentadores"
1977 - "As Amantes de um Canalha"
1976 - "Torturadas pelo Sexo"
1976 - "Traídas pelo Desejo"
1975 - "A Filha do Padre"
1975 - "Os Pilantras da Noite"
1974 - "O Exorcista de Mulheres"
1973 - "Desejo Proibido"
1973 - "Sob o Domínio do Sexo"
1972 - "Gringo, o Último Matador" (ou Gringo, o Matador Erótico)


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